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24 de mai. de 2013

Temos de perseverar na luta pela Cultura, líquido medular da cidadania

O educador e intelectual calçadense Edson Lobo parabenizou-me certa feita por entender que contribuo pela Cultura.

Eu lhe respondi "temos de perseverar", pensando nos obstáculos que a dita-cuja enfrenta para fincar raízes mais profundas na incrível superficialidade comportamental de então.

A Cultura, definida como tudo o que resulta da criação humana passa por sérios reveses. Se por exemplo o Big Brother da TV Globo é resultante da criação humana, então pode-se afirmar que Big Brother é Cultura. Logo, Cultura também é o ridículo, o baixo nível, a apelação, o egocentrismo, a fogueira das vaidades.


A obtusidade no Brasil atual alcançou nível inacreditável. A instantaneidade da informação, em vez de melhorar o nível cultural parece estar promovendo efeito inverso. Com a Internet, ninguém precisa "saber nada", basta saber procurar. Apertam-se algumas teclinhas..., e pronto: já estou culto.

O ensino superior no Brasil, de uma maneira geral, está “supletivizado”, “mobralizado”, “projetominervalizado”, isto é, exercido perfunctoriamente, de modo ligeiro, superficial. 

Nunca, jamais, em tempo algum o diploma foi tão banalizado, a obtusidade tão diplomada, a ignorância tão “com olhos de cigana oblíqua e dissimulada” como a Capitu, de Machado de Assis.

Há muito venho recebendo reprimendas de alguns leitores, censuras ao “vocabulário elaborado”, como um que colocou nestes termos, educadamente, para não ir direto ao ponto, deselegantemente, de que quero parecer erudito, o que definitivamente não sou.



Uma comerciante bom-jesuense-do-norte, dia destes, me falou baixinho, quase sussurrando, cheia de dedos, que temia dizer – e já dizendo, que escrevo coisas interessantes mas uso algumas palavras difíceis... Tinha receio de que eu, em represália, parasse de entrar em seu estabelecimento!

Receio infundado, até por sua simpatia e qualidade dos produtos que comercializa. Um pouco chateado, sim, fiquei, não pela repreensão, mas pelo nível cultural que ela revela, sendo eu não mais que mediano em Português (honestamente, sem falsa modéstia).

Acontece que os textos jornalísticos não podem reproduzir integralmente a linguagem falada, até porque o papel – mais as telas, hoje em dia -, não reproduzem os trejeitos e demais expressões corporais que potencializam ou suavizam a mensagem oral.

Além disso, como se aprende em qualquer curso de Comunicação no primeiro dia de aula, tudo o que se deseja expressar tem um vocábulo adequado. Se quero escrever “ele é uma pessoa que só admite existir no mundo princípios antagônicos e irredutíveis, só o bem e o mal”, digo que ele é maniqueísta, economizando aí umas 20 palavras, uns 80 caracteres.

- Maniqueísta???!!!, escandalizar-se-ão meus censores. - Este cara quer dar uma de sabichão, de intelectual, o povão não entende tal palavra -, diriam os que profetizam um Aurélio 99% mais magro, um Caldas Aulete com corpinho de faquir, um Michaelis anoréxico!

São desejos duplamente injustos. Diria até, perversos: 1) os mais instruídos terão de descer ao nível dos menos; 2) desmotiva-se, desestimula-se a luta pelo progresso cultural, que é o passaporte da cidadania. Qualquer semelhança com o Brasil político atual..., não é mera coincidência!

Felizmente ninguém até hoje se queixou de não ter entendido perfeitamente o teor de meus textos. Melhor: os que confessam admirar minhas mal-traçadas são em número bem maior dos que querem mutilar, humilhar, reduzir à míngua o idioma.

Semelhante ao Russo de Vladimir Nabokov, nosso belíssimo Português propicia-nos mais provisão de acessórios, "o espelho de truques, o pano de fundo de veludo preto, as tradições e associações implícitas — de que o ilusionista local, com as abas do fraque a voar, pode valer-se magicamente a fim de transcender tudo o que lhe chega como herança".

Temos de perseverar!

Autor: José Henrique Vaillant