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31 de mai. de 2013

Há algo em comum entre o julgamento do Mensalão e o do assassinato da menina Isabella Nardoni

Este ano a garotinha Isabella Nardoni celebraria seu 11º aniversário, não tivesse cruzado em seu caminho, em 2008,  dois estupores adultos: o próprio pai e a madrasta.

Por coincidência, neste 2013 será apresentado o último capítulo da "novela" Mensalão. Aguarda-se ansiosamente que os roteiristas escrevam uma moral da história edificante, punindo os vilões da trama que desenrola-se desde 2005.


Refiro-me a ambos os casos porque encontro neles algo em comum: dois dos mais conceituados advogados, Marcio Thomaz Bastos e Roberto Podval, emitem discursos favoráveis, ao meu ver, aos acusados (Bastos, inclusive, advoga no caso para um deles, e Podval sustenta a tese de que o julgamento foi célere, influenciado pelo clamor popular).

No caso da Isabella, os papeis eram invertidos, onde Podval foi  advogado dos assassinos, e Bastos o que criticou aquilo que, a seu ver, teria sido julgamento influenciado pelo..., clamor popular

Chegou mesmo a afirmar: "É um exemplo típico de um julgamento que não houve. Foi um justiçamento". 

Ora, amável leitor, graciosa leitora. O casal que matou Isabela teve direito a tudo: exames técnicos, laudos, perícias, a mais ampla gama de recursos.


Adiaram o julgamento ao máximo, sempre atendido nos  recursos jurídicos talentosamente pescados no Código Penal pelo caríssimo advogado Podval, para rimar e ficar legal. 


E os sete do Tribunal do Júri que condenaram o casal em 2010 foram injustos, apenando não pelo dito da consciência, mas pelo clamor popular?

No Mensalão, também o STF cometerá a injustiça de condenar anjos e arcanjos apenas pelo clamor popular? 

Ora, ora, ora, diria o velho Teotônio Vilela.

Sem medo de ser feliz, fico com os verdugos dos mensaleiros e do casal Nardoni, ministro Joaquim Barbosa (e seus pares de igual convicção) e o promotor Francisco Cembranelli, respectivamente.


A este último, dediquei-lhe um texto em 2010, logo após ter conseguido, brilhantemente, a sentença que lavou a alma dos brasileiros, mais de 100 milhões de pais e mães de Isabella.

Ei-lo:

O anjo da guarda de Isabella
- Já vi de tudo nesta vida -, costumamos dizer quando nos deparamos com casos escabrosos. Afirma isso com mais regularidade quem está, segundo João Ubaldo Ribeiro, “velhinho em folha”. 

Mas a ilusória sensação de ter visto de tudo nesta vida não foi capaz de neutralizar meu (nosso) assombro pelo assassinato com requintes de crueldade da garotinha Isabella Nardoni, tenra e vulnerável como um brotinho de rosa nos seus 5 anos de idade.

Mesmo os animais irracionais protegem as crias, velam por elas, defendem-nas dos perigos. 

Daí não constituir exagero afirmar que o pai da menina, um crápula brutal, capaz de cometer a infâmia contra todos os quesitos da civilidade, não é um animal, nem dos da classe irracional. É a personificação da besta!

Ele renunciou à bênção suprema de desfrutar do crescimento da filha, de se divertir com suas peraltices e descobertas, de amá-la, respeitá-la, orientá-la, ampará-la, defendê-la, e se preciso fosse, de morrer por ela. 

Em vez disso, matou-a!

Depois desse crime hediondo cometido contra todos os pais e mães que adotaram Isabella em seus corações, deixando perplexas nossa credulidade, nossa natural aptidão de nos enternecermos perante a inocência, a noção de solidariedade e clemência ao menos com o sangue do nosso sangue, não mais asseguro que já vi tudo; - ainda não vi nada -, direi.

Por outro lado, vi a enorme grandeza de espírito e estatura profissional, muito amor pela causa e renúncia em favor da Justiça (o bálsamo que ansiamos de maneira fremente neste país), características marcantes na pessoa do promotor Francisco Cembranelli, um homem invulgar que ajuda a fortalecer a crença na humanidade, não obstante o mal insidioso que nos cerca diuturnamente. 

Mais que o promotor comprometido até à medula com as leis, valendo-se delas para extrair a seiva da ética e da elevação moral, o Dr. Cembranelli é o símbolo da esperança, o oásis de luz nas trevas da injustiça. 

Com determinação, competência e desassombro, delimitou o espaço em que ficarão severamente guardadas a fera e sua cúmplice.

Triste do país que precisa de heróis, já dizia o poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht. E o Brasil precisa, o que é profundamente lamentável. 

Menos mal que os gera aqui e acolá, como o mais recente a figurar nesse rol. O Dr. Francisco Cembranelli, anjo da guarda de Isabella, é um deles, pelo qual passei a nutrir um sentimento de profundo respeito, grande admiração. 

Por conta dele e dos coadjuvantes da Polícia e da Justiça, finalmente a criança foi justiçada.

Obrigado, doutor! Agora, sim, descanse em paz, querida Isabella.

Autor: José Henrique Vaillant