Por coincidência, neste 2013 será apresentado o último capítulo da "novela" Mensalão. Aguarda-se ansiosamente que os roteiristas escrevam uma moral da história edificante, punindo os vilões da trama que desenrola-se desde 2005.
Refiro-me a ambos os casos porque encontro neles algo em comum: dois dos mais conceituados advogados, Marcio Thomaz Bastos e Roberto Podval, emitem discursos favoráveis, ao meu ver, aos acusados (Bastos, inclusive, advoga no caso para um deles, e Podval sustenta a tese de que o julgamento foi célere, influenciado pelo clamor popular).
No caso da Isabella, os papeis eram invertidos, onde Podval foi advogado dos assassinos, e Bastos o que criticou aquilo que, a seu ver, teria sido julgamento influenciado pelo..., clamor popular!
Chegou mesmo a afirmar: "É um exemplo típico de um julgamento que não houve. Foi um justiçamento".
Ora, amável leitor, graciosa leitora. O casal que matou Isabela teve direito a tudo: exames técnicos, laudos, perícias, a mais ampla gama de recursos.
Adiaram o julgamento ao máximo, sempre atendido nos recursos jurídicos talentosamente pescados no Código Penal pelo caríssimo advogado Podval, para rimar e ficar legal.
E os sete do Tribunal do Júri que condenaram o casal em 2010 foram injustos, apenando não pelo dito da consciência, mas pelo clamor popular?
No Mensalão, também o STF cometerá a injustiça de condenar anjos e arcanjos apenas pelo clamor popular?
Ora, ora, ora, diria o velho Teotônio Vilela.
Sem medo de ser feliz, fico com os verdugos dos mensaleiros e do casal Nardoni, ministro Joaquim Barbosa (e seus pares de igual convicção) e o promotor Francisco Cembranelli, respectivamente.
A este último, dediquei-lhe um texto em 2010, logo após ter conseguido, brilhantemente, a sentença que lavou a alma dos brasileiros, mais de 100 milhões de pais e mães de Isabella.
Ei-lo:
O anjo da guarda de Isabella
- Já vi de tudo nesta vida -, costumamos dizer quando nos deparamos
com casos escabrosos. Afirma isso com mais regularidade quem está,
segundo João Ubaldo Ribeiro, “velhinho em folha”.
Mas a ilusória
sensação de ter visto de tudo nesta vida não foi capaz de
neutralizar meu (nosso) assombro pelo assassinato com requintes de
crueldade da garotinha Isabella Nardoni, tenra e vulnerável como um
brotinho de rosa nos seus 5 anos de idade.
Mesmo os animais irracionais protegem as crias, velam por elas,
defendem-nas dos perigos.
Daí não constituir exagero afirmar que o
pai da menina, um crápula brutal, capaz de cometer a
infâmia contra todos os quesitos da civilidade, não é um animal,
nem dos da classe irracional. É a personificação da besta!
Ele renunciou à bênção suprema de desfrutar do
crescimento da filha, de se divertir com suas peraltices e
descobertas, de amá-la, respeitá-la, orientá-la, ampará-la,
defendê-la, e se preciso fosse, de morrer por ela.
Em vez disso, matou-a!
Depois
desse crime hediondo cometido contra todos os pais e mães que
adotaram Isabella em seus corações, deixando perplexas nossa
credulidade, nossa natural aptidão de nos enternecermos perante a
inocência, a noção de solidariedade e clemência ao menos com o
sangue do nosso sangue, não mais asseguro que já vi tudo; - ainda
não vi nada -, direi.
Por outro lado, vi a enorme grandeza de
espírito e estatura profissional, muito amor pela causa e renúncia
em favor da Justiça (o bálsamo que ansiamos de maneira fremente
neste país), características marcantes na pessoa do promotor
Francisco Cembranelli, um homem invulgar que ajuda a fortalecer a
crença na humanidade, não obstante o mal insidioso que nos cerca
diuturnamente.
Mais que o promotor comprometido até à medula com as
leis, valendo-se delas para extrair a seiva da ética e da elevação moral, o Dr. Cembranelli é o símbolo da esperança, o oásis de luz
nas trevas da injustiça.
Com determinação, competência e
desassombro, delimitou o espaço em que ficarão severamente
guardadas a fera e sua cúmplice.
Triste
do país que precisa de heróis, já dizia o poeta e dramaturgo
alemão Bertold Brecht. E o Brasil precisa, o que é profundamente
lamentável.
Menos mal que os gera aqui e acolá, como o mais recente
a figurar nesse rol. O Dr. Francisco Cembranelli, anjo da guarda de
Isabella, é um deles, pelo qual passei a nutrir um sentimento de
profundo respeito, grande admiração.
Por conta dele e dos coadjuvantes da
Polícia e da Justiça, finalmente a criança foi justiçada.
Obrigado, doutor! Agora, sim, descanse em paz, querida Isabella.
Autor: José Henrique Vaillant