Para os saudosistas, o evento sempre é uma excelente oportunidade de viajar no tempo, relembrando uma época em que a integração dos seres humanos com os animais domésticos era mais harmoniosa e proveitosa.
Para os jovens, também uma excelente oportunidade de visualizar os carros de bois e os carreiros, sentindo na prática o que os pais e avós lhes ensinam de um passado do homem em harmonia com o seu limitado poder tecnológico, que entretanto não lhes tolia a dedicação ao labor diário, a alegria de viver e a fé no crescimento moral e material de sua comunidade.
O tema inclusive foi magistralmente retratado no "O último carro de boi da Vila de Calçado", livro do escritor e historiador calçadense Pedro Teixeira.
O último miniconto do livro é um dos mais plangentes da literatura regional: trata da saga do carreiro Zé Bicuíba, que teve um fim trágico por sua teimosia em realizar o maior sonho da vida, que era a de entrar com seu carro de boipelas ruas pavimentadas de um lugarejo.
José Benedito Nunes - Um carreiro entre tantos
O destaque da Festa de carros de bois fica por conta do carreiro José Benedito Nunes, 74 anos (foto), que sempre puxa o desfile conduzindo sua família em
cima de um desses veículos.
Pode-se dizer que Zé Benedito nasceu num carro de bois. “Criei minha família com essa profissão. Cheguei a viajar mais de 18 Km de uma só vez", conta, orgulhoso.
Ele mantém vivo um comportamento que era comum na época em que não havia automóveis, muito menos asfalto nas estradas.
E conta como eram identificados os proprietários dos carros: "A gente sabe é pelo canto do carro de boi", explica, acrescentando que quanto mais pesado, mais estridente é 0 canto característico resultante da fricção do eixo com as rodas.
Ze Benedito é provavelmente o maior colecionador desse gênero rudimentar de transporte no Espírito Santo. Em sua propriedade ele mantém quatro carros, cada um podendo ser puxado por até oito animais.
Ele tem hoje como companheiro de desfile 0 filho Sebastião Carlos e a neta Amanda, cada qual conduzindo um carro. Eles já desfilaram em Guaçui e Vargem Alta.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em setembro/2008