- Ô, Zêinrique, não vai comentar a "limpa" que a Polícia Federal fez em Bom Jesus?, indagou o Palhares, um amigo de data recente, já que muitos dos antigos foram estudar a geologia dos campos-santos... (e estão por aí com você, Machado).
- Não, não vou, respondi um tanto ríspido.
Meio boquiaberto, Palhares retrucou:
- Vai perder a oportunidade de dar uma espinafrada nessa cambada?
- Vou.
- Pô, cara. Tô estranhando... Vai ver está também com o rabo-preso..., disse com um risinho sarcástico.
- Rabo-preso coisa nenhuma. É que estou com uma preguiça...
- Preguiça?
- Inócuo?
- É. Nem os ganhadores do Pulitzer conseguiriam fazer um texto que redespertasse a capacidade de indignação das pessoas, amortecida pelo modus vivendi contemporâneo, onde a única coisa que vale para muita gente é o TER, não importa como, mesmo que tenha de matar figurada ou literalmente o SER.
- Como assim?
- Já está cansativa, embora a cada dia mais legítima a máxima de que a conquista das coisas através do trabalho, da honestidade, da ética e da honra, está fora de moda há tempos... Como dizíamos no passado, isso hoje é cafonice, está démodé, é boco-moco.
- Verdade das boas.
- Existem três tipos de gente, Palhares: a que tem ou não tem, em que ambas as circunstâncias advêm da dignidade e da honradez; a que não tem, mas gosta de ostentar o carrão da financeira ou a casa da Caixa; e a gente pior: a que tem, às vezes muito mais do que precisa, mas em decorrência de roubo, furto, estelionato, desvio, corrupção, etc, etc, etc, que a malignidade é infinita.
- Realmente, Zêinrique.
- Esta última categoria mata indiretamente doentes nos hospitais sem leito, Palhares, porque o dinheiro que poderia financiar o sistema de saúde pública está em grande parte nos bolsos dela;
Essa gente que recebe benefícios indevidos do INSS é a parasita que vive, muitas vezes nababescamente, às custas alheias, inviabilizando a que estas alheias desfrutem, merecidamente, a recompensa por 40 anos de trabalhode sol a sol porque a Previdência, quebrada, é incapaz de suster condignamente o fiapo de vida que lhe resta.
Essa gente...
- Você não disse que não ia comentar?, interrompe bruscamente o Palhares, com um sorriso maroto, quando eu já estava quase apoplético. E completou:
- Rá, rá, rá. Ta na veia, Zêinrique, não pode controlar...
- Ops. Foi mal. Não falo mais nada, redargui, amuado.
- Só mais uma coisinha, insistiu ele. - Em qual categoria você se coloca?
- Pertenço com muito orgulho à categoria da maioria dos bom-jesuenses, dos brasileiros: não ostentamos nada, e quase nada temos. Mas somos felizes. E dormimos tranquilos, sempre em paz com a nossa consciência.
Essa gente...
- Você não disse que não ia comentar?, interrompe bruscamente o Palhares, com um sorriso maroto, quando eu já estava quase apoplético. E completou:
- Rá, rá, rá. Ta na veia, Zêinrique, não pode controlar...
- Ops. Foi mal. Não falo mais nada, redargui, amuado.
- Só mais uma coisinha, insistiu ele. - Em qual categoria você se coloca?
- Pertenço com muito orgulho à categoria da maioria dos bom-jesuenses, dos brasileiros: não ostentamos nada, e quase nada temos. Mas somos felizes. E dormimos tranquilos, sempre em paz com a nossa consciência.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em julho/2008