S. Excia. foi tão enfático, tão coerente, sua exposição de motivos tão justa, que já há quem tenha se convencido de que realmente não passa de um reles vagabundo, e acredita que ter sobrevivido quase meio século unicamente do seu suor, mais que contribuir para o desenvolvimento do país foi um exercício relaxante de prazer e luxúria que o arroz com feijão e taioba propicia.
A crise de consciência dessas pessoas é grande, pois entendem, após ouvir as imprecações presidenciais veementes, que ao invés de ficarem vagabundando por aí, poderiam muito bem estar no mercado de trabalho, que é farto e amplo, especialmente para quem já passou dos 40.
Não se conformam em viver com as bocas em constante frenesi ao sugarem mensalmente as tetas da Previdência abocanhando R$ 130, uma fortuna! Que vergonha!
Esses deserdados da dignidade, numa autocrítica por vagabundarem tanto, emocionam-se ao ver quem realmente trabalha e tira seu sustento de forma honrada.
A começar por S. Excia., que há quatro ininterruptos anos dedica todo o seu tempo a pajear o Real chocando a reeleição, atividades tão desgastantes que não o permitem sequer um momento de folga, que ele poderia aproveitar para se dedicar a coisas menores como a seca do Nordeste, por exemplo, ou incrementar políticas consistentes de bem-estar para seus súditos e desenvolvimento para seu país.
E...coitado..., sempre ganhou tão pouco! Não admira que, num terrível conflito de consciência, tenha se aposentado aos 38 anos de idade e ainda necessite ralar tanto!
Ainda bem que os aposentados, com consternação, deram-se conta de que além de vagabundos são perversos, por terem dado emprego tão ingrato e indesejável a esse cidadão.
Ainda bem que os aposentados, com consternação, deram-se conta de que além de vagabundos são perversos, por terem dado emprego tão ingrato e indesejável a esse cidadão.
Então prometem rever esta decisão em 3 de outubro, data em que se encerra o contrato, provavelmente não o renovando.
Assim, passarão de vagabundos a distintos.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em junho/1998