Uma das características positivas do brasileiro é ser solidário.
Embora os tempos modernos tenham exacerbado a competitividade pela vida e com ela avivado o culto à personalidade e ao egoísmo, o brasileiro de modo geral felizmente não perdeu a sensibilidade e a capacidade de se mobilizar para ajudar o próximo.
Este jornalista acompanhou a refeição coletiva feita no último dia 9 e pôde constatar (enchendo a barriga) não apenas a textura, o sabor, o tempero equilibrado e a grande variedade de ingredientes, inclusive carne em proporções generosas, como também a aura de satisfação e de alegria dos beneficiados.
Vê-se diariamente na TV as campanhas de arrecadação batendo recordes e recordes, em várias modalidades, seja de alimentos, recursos financeiros, agasalhos, remédios, etc., não apenas para proveito de outros brasileiros, mas até de povos longínquos em países devastados por guerras ou intempéries.
Um exemplo disso está bem perto. A Associação de Moradores do Bairro Bela Vista, de Bom Jesus do Itabapoana, pratica na plenitude o objetivo básico pela qual foi criada, que é o assistencialismo a vários moradores que dele necessitam.
Um exemplo disso está bem perto. A Associação de Moradores do Bairro Bela Vista, de Bom Jesus do Itabapoana, pratica na plenitude o objetivo básico pela qual foi criada, que é o assistencialismo a vários moradores que dele necessitam.
Atuando num dos segmentos sociais carentes da cidade, pouco assistido pelo poder público que falha escandalosamente na sua missão precípua de fornecer as condições básicas para a população porque envolto num emaranhado de dilemas políticos, financeiros e burocráticos (o que não é prerrogativa apenas de Bom Jesus), esta entidade e tantas outras acabam por suprir, mesmo que a duras penas o que o Estado inepto, voraz em arrecadar e tímido em distribuir não consegue disponibilizar para esta parte majoritária da sociedade.
Afora os pedidos os mais variados, seja de remédios, alimentos e até cadeiras de rodas, a Associação canaliza de modo eficaz o sentido solidário dos mais aquinhoados para proveito dos que precisam, e ainda distribui sua famosa sopa a mais de 100 pessoas todas as quintas-feiras.
Afora os pedidos os mais variados, seja de remédios, alimentos e até cadeiras de rodas, a Associação canaliza de modo eficaz o sentido solidário dos mais aquinhoados para proveito dos que precisam, e ainda distribui sua famosa sopa a mais de 100 pessoas todas as quintas-feiras.
Este jornalista acompanhou a refeição coletiva feita no último dia 9 e pôde constatar (enchendo a barriga) não apenas a textura, o sabor, o tempero equilibrado e a grande variedade de ingredientes, inclusive carne em proporções generosas, como também a aura de satisfação e de alegria dos beneficiados.
Espalhados na pracinha do bairro, na penumbra (as lâmpadas da iluminação pública estão queimadas), as pessoas seguem o ritual de quase dois anos de alimentação ao ar livre.
Muitas trazem marmitas de casa e toda a sobra, desde o produto final até os eventuais ingredientes são doados à comunidade. Não há limites, come-se à vontade.
Ajuda pública praticamente inexiste
Além dos membros da diretoria, quatro voluntários se esforçam para arrecadar os ingredientes e preparar o alimento.
Ajuda pública praticamente inexiste
Além dos membros da diretoria, quatro voluntários se esforçam para arrecadar os ingredientes e preparar o alimento.
Macarrão, batata doce, batata inglesa, repolho e vários outros legumes e hortaliças se juntam à carne para produzirem um prato substancioso e de paladar agradável.
A reputação da sopa é tanta que há pessoas que vêm de outros bairros, inclusive do município vizinho de Bom Jesus do Norte e da zona rural para saboreá-la.
"É pena que só podemos comer uma vez por semana. Se pudesse todo o dia seria ótimo", disse Reinalda de Souza, que sempre leva os seus quatro filhos e outros parentes.
"A prefeitura não ajuda em nada. Ou melhor, quando começamos, conseguimos alguns pratos e talheres. Mas foi só. Às vezes, quando estamos no sufoco, vamos lá e conseguimos uns quatro quilos de canjiquinha, mas isso é muito pouco para a grande demanda", afirmou Marcelo Ribeiro, tesoureiro da Associação.
"A prefeitura não ajuda em nada. Ou melhor, quando começamos, conseguimos alguns pratos e talheres. Mas foi só. Às vezes, quando estamos no sufoco, vamos lá e conseguimos uns quatro quilos de canjiquinha, mas isso é muito pouco para a grande demanda", afirmou Marcelo Ribeiro, tesoureiro da Associação.
Segundo ele, o esteio que dá sustentação à continuidade do benefício são os voluntários e algumas empresas, e acrescenta que devido à intensa procura, a Associação chegou a sonhar com a construção de um galpão, em área próxima disponível.
"Quando chove amontoa todo mundo no coreto. Tentamos ajuda com a prefeitura, mas nada.
O presidente Antônio Carlos Zanon disse, esperançoso: "O Seu Carlos (Carlos Borges Garcia, prefeito eleito este ano) prometeu que vai nos dar todo apoio e acreditamos nele".A Associação foi agraciada pela Câmara de Vereadores, em 2003, com uma Moção de Aplausos pelos relevantes serviços benemerentes que presta à comunidade do bairro.
De voluntária a usuária - Dona Luzia e o filho não perdem uma
Luzia Risse de Oliveira, viúva, 65, e seu filho José Geraldo R. Oliveira, 33, não perdem uma quinta-feira de sopa.
Há 10 anos aproximadamente residindo no bairro, ela já foi voluntária no preparo e na distribuição do alimento, mas diz que a idade e os problemas de saúde obrigaram-na a parar.
De voluntária a usuária - Dona Luzia e o filho não perdem uma
Luzia Risse de Oliveira, viúva, 65, e seu filho José Geraldo R. Oliveira, 33, não perdem uma quinta-feira de sopa.
Há 10 anos aproximadamente residindo no bairro, ela já foi voluntária no preparo e na distribuição do alimento, mas diz que a idade e os problemas de saúde obrigaram-na a parar.
"Hoje sou apenas beneficiária. Trago minha marmita e levo para casa porque às vezes tenho vontade de comer só mais tarde. Aí basta dar uma esquentadinha e saborear", diz, acariciando a barriga com ares de satisfação.
Seu filho José Geraldo, jardineiro licenciado devido a um acidente de bicicleta, casado, pai de um filho, elogia:
Seu filho José Geraldo, jardineiro licenciado devido a um acidente de bicicleta, casado, pai de um filho, elogia:
"A sopa é muito boa. Não perco uma".
A qualidade foi muito elogiada pela maioria dos usuários. Alguns, no entanto, fizeram restrição quando eventualmente é servida canjiquinha, dizendo não gostarem.
A qualidade foi muito elogiada pela maioria dos usuários. Alguns, no entanto, fizeram restrição quando eventualmente é servida canjiquinha, dizendo não gostarem.
"Este alimento é utilizado apenas como complemento, quando a Associação encontra dificuldades para arrecadar a quantidade adequada de legumes e hortaliças", explica Zanon.
Empresas que colaboram regularmente
Supermercados Varejão I e II; Mercado Tiradentes; Rede Show e Supermercado 5 Irmãos; Supermercado Pinheiro; Supermercado MR; Supermercado Peg-Pag; Açougue Ressil; Colégio Agrícola e Bom Gás.
Uma história de arrepiar!
Marcelo Ribeiro contou uma história comovente que presenciou há cerca de cinco, seis meses.
Empresas que colaboram regularmente
Supermercados Varejão I e II; Mercado Tiradentes; Rede Show e Supermercado 5 Irmãos; Supermercado Pinheiro; Supermercado MR; Supermercado Peg-Pag; Açougue Ressil; Colégio Agrícola e Bom Gás.
Uma história de arrepiar!
Marcelo Ribeiro contou uma história comovente que presenciou há cerca de cinco, seis meses.
Ele disse que chegou uma senhora com o marido e dois filhos, e a mulher comeu tanto que desfaleceu.
Um médico que estava próximo, tomando cerveja, examinou-a e disse ter quase certeza que era por desnutrição.
Depois de socorrida, perguntaram ao seu marido, um homem que estava desempregado, o que poderia ter havido, se ela já tinha tido este problema. A resposta foi cortante!
"Ela quase não come. A pouca comida que conseguimos ela dá para as crianças", disse o homem.
A falta do que comer em casa não parece ser comum à maioria que vai em busca da sopa.
A falta do que comer em casa não parece ser comum à maioria que vai em busca da sopa.
Muitos são atraídos pela qualidade, pela vontade de variar, pela economia até.
Seja como for, todos o fazem com a maior dignidade, sem constrangimento.
Ao contrário, percebe-se a alegria e até um certo orgulho pela conquista infelizmente inalcançada por comunidades de outros bairros.
Voluntariado
Além da diretoria e eventuais colaboradores, quatro pessoas trabalham regularmente: Lucy Benfeytas, Franciano O. dos Santos, Ana Lúcia Pacheco Torres e sua irmã Lucinéia Pacheco Torres.
Voluntariado
Além da diretoria e eventuais colaboradores, quatro pessoas trabalham regularmente: Lucy Benfeytas, Franciano O. dos Santos, Ana Lúcia Pacheco Torres e sua irmã Lucinéia Pacheco Torres.
Perguntada sobre a razão de estar ali toda semana, o que a inspira mais ao voluntarismo, Lucy Benfeytas respondeu emocionada, apontando para uma mesa cheia de crianças: "Essas coisas lindas. Precisa dizer mais?"
Reconhecimento e gratidão
A Associação de Moradores do Bairro Bela Vista tem na presidência Antônio Carlos Zanon, empregado dos Correios de Bom Jesus do Norte e proprietário de um bar no bairro, onde é preparada a sopa todas as quintas-feiras.
Reconhecimento e gratidão
A Associação de Moradores do Bairro Bela Vista tem na presidência Antônio Carlos Zanon, empregado dos Correios de Bom Jesus do Norte e proprietário de um bar no bairro, onde é preparada a sopa todas as quintas-feiras.
Fabiano Magalhães, funcionário do Colégio Padre Mello é o vice-presidente (presidente em exercício até este mês de dezembro) e o radialista Marcelo Ribeiro, tesoureiro, um dos mais atuantes, entre outros.
Eles dizem que não apenas a sopa é distribuída, mas em algumas ocasiões especiais outras formas de assistência e integração são promovidas pela Associação.
Eles dizem que não apenas a sopa é distribuída, mas em algumas ocasiões especiais outras formas de assistência e integração são promovidas pela Associação.
"Realizamos bingos, fazemos churrascos e viabilizamos a
festa anual do bairro. No Dia das Crianças, este ano, conseguimos realizar uma festa sensacional com os artistas Júnior e Paulinho e Grupo WEF, com distribuição de doces e brinquedos para a criançada.
festa anual do bairro. No Dia das Crianças, este ano, conseguimos realizar uma festa sensacional com os artistas Júnior e Paulinho e Grupo WEF, com distribuição de doces e brinquedos para a criançada.
A repercussão foi muito grande", disseram.
Os três representantes da Associação, em nome de toda a diretoria agradecem o trabalho dos funcionários da entidade, dos voluntários e dos comerciantes que doam os alimentos.
Os três representantes da Associação, em nome de toda a diretoria agradecem o trabalho dos funcionários da entidade, dos voluntários e dos comerciantes que doam os alimentos.
"É muito gratificante perceber a solidariedade destas pessoas. Elas se doam a uma causa nobre sem intenção outra senão a de ajudarem, a de exercitarem o senso de amor ao próximo".
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em dezembro/2004
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em dezembro/2004