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3 de abr. de 2013

Réquiem

O português Miguel Torga:
ago/1907 - jan/1995
Como é duro conviver e depender dos políticos. Entra ano, sai ano, as mazelas não se arrefecem, ao contrário, sempre vai num crescendo.

De eleição em eleição, passando ainda pela possibilidade da reeleição, roubam-nos as já tênues esperanças.

Não adianta, é tudo a “lesma lerda”, como diz Carlito Maia, “vinhos da mesma pipa”.

Lamentavelmente não se tem condições de citar muitos que fizessem jus a figurar num rol mais digno que não o da ganância de poder ou de dinheiro. Quando algum se aproxima desta meta a máquina o expele.



 As cenas se repetem como num velho filme visto e revisto várias vezes. Banqueiros sendo salvos da guilhotina, muito embora tenham cometido crimes financeiros atrozes;

Anões transformados em gigantes obesos continuando a pilhar a nação;

A incrível dificuldade do governo em cobrar dos poderosos a conta pela demagogia intitulada melhor distribuição da renda nacional (quem paga realmente é a classe média);

Aumento substancial dos combustíveis (no período das festas, para ninguém botar sentido), que em algumas cidades chega a 50% para cobrir o rombo colossal da ineficiente, arcaica e obsoleta Petrobrás (que com muita propriedade Paulo Francis chama de ‘Petrossauro’), mastodonte que, a exemplo de outros, só serve como cabide de empregos excepcionalmente bem remunerados;

Parlamentares gastando todo o seu tempo para legislar em causa própria, deixando para um segundo ou terceiro plano a discussão das reformas vitais para o país. E por aí vai.

Pobre de um povo que se contenta com migalhas. Infeliz daquele que compra sua TV financiada em 36 meses, pagando 3, 4 vezes mais por ela e ainda voltando para casa sorridente para sintonizar sua novela predileta e planejando dar novamente seu voto para a mesma entourage manter o status quo.

Mal sabe que acabou de entrar na estatística do consumo, que ora serve para fazer propaganda do governo, ora como justificativa de consumo excessivo (aquele que é necessário cortar para não pôr o plano em risco).

O único alento é que Deus é brasileiro (imaginem se não fosse!), e enquanto Ele está sem tempo de dar uma mãozinha a seus compatriotas, contentemo-nos com o depoimento de Manoel Torga, grande poeta, depoimento este que deveria estar em toda alma sedenta de justiça e esperançosa de ganhar sua vida honestamente neste país, através do suor do seu trabalho.

De seguro,
Posso apenas dizer que havia um muro,
E foi contra ele que arremeti,
A vida inteira.
Não, nunca o contornei,
Nunca tentei ultrapassá-lo de qualquer maneira.
A honra era lutar, sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente, noite e dia, 
Apesar de saber que quanto mais lutava mais perdia,
E mais funda sentia,
A dor de me perder.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em janeiro/1997