Quão infausta é a perda da ilusão e a noção mais acentuada da realidade!
Não vejo o que comemorar. Para começar, todos sabem mas poucos se lembram do motivo principal das pomposas solenidades natalinas.
Entendo os festejos principalmente num mundo de alucinações e delírios como o nosso não como uma singeleza ao Menino Deus, mas uma afronta, uma heresia, uma blasfêmia.
Que me perdoem as exceções nas quais não me incluo porque fui também cooptado pela sanha mercantil e hedonista; empanturro-me de sólidos e líquidos pouco me lixando para os outros, os milhares, os milhões de estômagos vazios e corações desesperançados.
Os sapatinhos nas minhas janelas capitulam vergados ao peso de pacotes adornados sedutoramente, sem comover-me as janelas que não têm os seus calçados porque os pés andam descalços.
Dou vivas a Jesus à meia-noite, e à meia-noite e um, Dele me esqueço retomando o ritmo normal que com certeza é motivo de enorme frustração e tristeza ao milenarmente célebre Aniversariante.
Este é meu ato de contrição: nada de espumantes ou destilados, animais, frutas ou rapapés.
Apenas um silencioso e contido parabéns, eis que por existirem as flores com os seus perfumes, continuo acreditando em Deus e em Seu Filho, ainda que com a mente impregnada com cada sílaba, cada letra desta frase que alguém teria dito no estupor do assombro: “Se existe Bin Laden, Deus não pode existir”.
Nos veremos em 2002, amável leitor, graciosa leitora. E espero chegar ao final dele legitimado a levantar uma taça sem grilos de consciência.
Vou tentar!
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em dezembro/2001