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4 de abr. de 2013

O imposto do sonho

Paga-se para nascer, viver e morrer. Impostos, taxas, contribuições. Paga-se tudo, exceto o ar que se respira, ao menos por enquanto. Mas não está longe a época que pagar- se-á também por este elemento vital. Já estamos chegando lá, e a maior prova é que atualmente já estamos pagando para... sonhar!

Mega-Sena; Super-Sena; Quina; Loteria Esportiva; Loteria Federal; Raspadinha, explorados pelos estados e pela União; Tele-Sorte, Tele-Sena; Papa-tudo; Bingos; sorteios diversos, explorados pela iniciativa privada, especialmente pela mídia televisiva, fazem parte dos chamados “jogos legais”. O jogo do bicho; cassinos; briga de galos e outros animais são os ilegais.



Além dos citados acima ainda existem inúmeras modalidades de jogos que a imaginação humana concebeu com a finalidade de explorar seus semelhantes. 




O Brasil é o quarto país do mundo em movimentação de bilhetes de jogos e o décimo em arrecadação. No ano passado, a arrecadação ultrapassou a casa dos 2,5 bilhões de reais, isto somente com os jogos considerados legais. 

A CEF, detentora de mais de 95% da exploração do jogo, tornou-se uma instituição especializada na arte de faturar em cima dos devaneios do povo, agravados pela falta de perspectiva e pelo arrocho sem precedentes patrocinado pelo Real. 

É uma instituição que realiza sua função social às avessas, muito morosa e burocrática, além de ineficiente com a política habitacional, porém extremamente serelepe quando se trata de tirar o suado dinheiro do povo através dos jogos.

Incontáveis as vezes que ela mudou as regras dos jogos sempre de olho cada vez mais gordo no aumento da arrecadação. 

Em cada uma dessas mudanças ocorre um fenômeno cada vez mais sórdido, pois ao contrário do comércio, onde um produto que sofra aumentos de preços tem a tendência de vender menos, no caso dos jogos tem um efeito duplo no crescimento do valor arrecadado, porque como o prêmio fica maior, as pessoas tendem a apostar mais.

De olho nesse filão inesgotável entrou a iniciativa privada, clubes e associações. 


Muitos, inconformados com a perda do lucro fácil proporcionados pela inflação alta, ou pela incompetência operacional, resolveram lançar mão da pilantragem para poder sobreviver, inundando o Brasil das mais variadas modalidades. 

Na TV aposta-se de tudo pelo telefone, desde resultados de futebol até a cor da calcinha da Carla Perez. Tudo por módicos R$ 3 - que vêm incluídos na sua conta de telefone... 

É uma moleza... Ligue, ligue, se você não ganhou agora vai ganhar na próxima - e, digo eu, só se for o “que a Luzia ganhou atrás da horta”.

Ironias à parte, o problema é sério. A verdadeira lavagem cerebral que a mídia patrocina é uma sandice. 


O jogo desvirtua os valores morais, deteriora os alicerces da cultura do trabalho que deve ser o único caminho para se ganhar dinheiro. 

O “imposto do sonho” para muitos é alto e de calamitosas consequências: costumam ser cobrados, às vezes, emprego, projeção social, bens materiais, desmoronamento familiar e até mesmo o suicídio. 

E convenhamos: Jogar não vale a pena, pois a chance que se tem de ganhar, por exemplo, num milhar do jogo do bicho é uma em dez mil. 

E olha que essa é uma das modalidades consideradas mais fáceis entre as inúmeras opções que as velhas raposas, (com suas bochechas coradas de tanto sugar o sangue alheio) colocam à sua disposição.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em março/1997