Em Bom Jesus, parece que os locutores competem para ver quem imposta mais a voz, quem transmite mais emoção.
Naturalmente contentes por mais um “cliente” nestes tempos de vacas magras, o sujeito transmuda-se ao microfone fingindo uma tristeza de dar dó:
- Fa-le-ceu o Sr. fulano de tal. Seus filhos, etc. tal, convidam para o sepultamento às tantas horas no cemitério (às vezes campo-santo, o que é dose elefantina) local. A famíliaaa, enlutadaaaa, a-gra-de-ce-eee.
Família enlutada? É, talvez não seja tão redundante assim numa era marcada pelo individualismo e pouco afeto entre os iguais.
Família enlutada? É, talvez não seja tão redundante assim numa era marcada pelo individualismo e pouco afeto entre os iguais.
Pelo sim, pelo não, encareço aos meus, quando for chegada a minha hora, não só excluir o termo do recital, como também impedir o tom funéreo mandando tocar em alto e bom tom o apaixonante ( e barulhento) solo de guitarra do roqueiro Mark Knofler na música do Dire Straits, “Sultans of Swing”.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em dezembro/2000