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22 de abr. de 2013

Decepção

O balanço do primeiro ano do governo petista do presidente Lula, se não chega a ser decepcionante, traz inquietações e muitas dúvidas sobre sua capacidade de gerir o Brasil consoante as enormes expectativas, sonhos e esperanças do povo brasileiro. 

Um governo que prometia mudanças estruturais sem precedentes, que prometia transformar a doutrina de espoliação e injustiças, tão enfático na disposição de combater a torpe ordem estabelecida da exploração e do sofrimento, não fez nada que trouxesse o menor indício de que haverá realmente mudanças. 


A Educação, a Saúde, a Segurança Pública e outros setores continuam no mesmo patamar do descaso e da incompetência.

Recebido invariavelmente com pompa e circunstâncias nos quatro cantos do mundo (o presidente que tanto combatia as viagens de seu antecessor FHC, viajou este ano mais do que aquele no primeiro ano de mandato), este prestígio entre aspas começa a inquietar porque não é difícil perceber que os aplausos são condicionantes da mesmíssima ideologia de arrocho e de angústia para o povo brasileiro, mas equivalentes à devoção dos vorazes glutões especuladores internacionais.


A única coisa que está dando certo neste “governo da mudança” é exatamente o que nada mudou: a gestão da política econômica e financeira.

Os elogios às escâncaras de Fernando Henrique Cardoso e Armínio Fraga a Lula são a prova cabal de que o país continua trilhando a mesma cartilha que o ex- metalúrgico tanto combatia. 

O eleitor, que já percebeu há muito tempo que o discurso do PT mudou, começa a dar sinais de mágoa e desilusão.

O partido que guerreava para aumentar os salários dos funcionários públicos, e que considerava a contribuição de inativos uma heresia, hoje defende justamente o contrário. 

O povo começa a compreender que as fulgurantes promessas de palanque eram apenas engodo para conquistar o seu voto, que o PT no governo ignora completamente o que seus candidatos juraram durante a campanha. 

O salário-mínimo, cujo aumento real o presidente Lula não pôde dar em 2003, porque acabava de assumir o mandato, ia estudar depois, etc. e tal, será algo em torno de R$ 15 em 2004, um requinte de perversidade que significa desesperança para o pobre, mas lhe garantirá mais palmas e elogios no exterior.

Muitos dos candidatos do PT às prefeituras e aos legislativos municipais no ano que breve se inicia estão com as barbas de molho (inclusive gente do nosso Vale do Itabapoana). 

Principalmente aqueles que não possuem uma identidade própria, um carisma político exclusivo, uma liderança natural peculiar independente deste ou daquele partido, em suma, aqueles que majoritariamente precisam andar a reboque do PT perigam transitar em 2004 por caminhos inóspitos, fustigados pela hostilidade dos espinhos.

É espantoso que na monumental edificação chamada Brasil, que urge tão complexas, urgentes e colossais reformas, nem uma parede foi ainda pintada, sequer foram adquiridas a broxa e a cal.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em dezembro/2003