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19 de abr. de 2013

Bonjesino e a passarela

Bonjesino é parente do Eremildo. Só que este é um idiota, Bonjesino, não. 

É apenas crédulo ao extremo, ingênuo, de boa índole, otimista convicto e nutre profundo amor por Bom Jesus. 

Bonjesino é um mulato de quase dois metros de altura, que pesa uns 120 quilos. 



Mas esta enciclopédia de músculos só atemoriza quem não conhece a mansidão de sua personalidade, que só altera perigosamente quando alguém ousa criticar os políticos do lugar.


Estes são amados, idolatrados e defendidos com unhas e dentes por Bonjesino. 

O ciclope acredita piamente nas promessas e na retórica lapidada de quatro em quatro anos.


E ai de quem ousa criticar seus políticos. 


Ainda que não careça temer as vias de fato, só o susto da voz tonitruante e do esgar de indignação do brutamontes é capaz de matar alguém de infarto.


Hoje Bonjesino fala da passarela (ligando o Bairro Silvana, em Bom Jesus do Norte, ao Lia Márcia, em Bom Jesus do Itabapoana), obra que o bom-jesuense dos dois lados aguarda desde priscas eras que bem longe vão (e bote priscas nisso).

Desde criança de molhar as calças eu comecei a contar umas 20 pedras fundamentais diferentes, lançadas por 20 políticos diferentes, em 20 eleições diferentes para a construção da passarela.
Mas agora Bonjesino diz que vai. Imagina com riqueza de detalhes a entrada triunfal da prefeita Daisy, de Bom Jesus do Norte, ao encontro do seu colega Carlos Garcia no dia da inauguração da passarela. 

Quase chora de emoção quando, no auge da fantasia, vislumbra os dois se cumprimentando efusivamente no centro dela em meio a fanfarras e fogos de artifícios.


Ele sente que há grande vontade política de ambos os lados, até porque conhece várias cidades com necessidade semelhante, onde os dirigentes disponibilizaram as obras para os seus, talvez até com menor poder econômico. 

Desta vez está certo que o assunto não vai virar letra morta, pois entende que o maior entrave não é tão grande assim, já que cimento e ferragens são materiais muito em conta. 

Além disso, com sua boa índole e arraigado regionalismo, julga que todos são iguais a ele, e entra em devaneios: 

- Sabe, chefia, aposto que os assessores da vereança do lado mais rico contribuirão com uma vaquinha.

- Hein?

- Isso que você ouviu. Sei que eles ganham o salário com muita dedicação, sangue, suor e lágrimas, mas acima de tudo amam o lugar em que vivem, da mesma forma que os vereadores, seus patrões. 

- Nisso você tem razão, Bonjesino. Amam mesmo!

- Sem ironia, chefia. Quer saber? Os vereadores de ambos os lados têm trabalhado tão intensamente em prol da obra...

- Ô, sem têm...

Nunca pensam apenas em si próprios, por isso vão colaborar!...

- Ô, se vão...

- Nossos prefeitos, então, quase não dormem, tamanha a preocupação em viabilizar a passarela...

- Ô, insônia...

- E tem mais, homem de pouca fé. Esse seu Ô vai virar Ah..., de admiração, principalmente quando construírem a terceira ponte...

- Ô..., digo, Ah..., Bonjesino, vá plantar batatas!, encerrei o colóquio já a uns 100 metros do gigante, preparando-me para engatar a quinta marcha!

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em fevereiro/1999