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19 de abr. de 2013

As coisas vão "de bem a melhor"; ou, Bonjesino, como sempre, encantado com os políticos de Bom Jesus

Madame Min (esq.) e Maga Patalógica
Chefiaaaaaa....

Que susto! Caminhava placidamente dia desses quando ouvi ao longe a voz tonitruante de Bonjesino. 


Ele vinha a passos largos, de modo a compensar a distância que nos separava. 

Dei uma parada para esperá-lo. Chegou arfante, suando em bicas. O costumeiro (e uma ameaça para minhas costelas) abraço de paquiderme.


- Há quanto tempo, chefia!

- Como vão as coisas?, perguntei ao descomunal amigo, sujeito simpático, boa-praça, ingênuo que só. 

Ele adora os políticos de Bom Jesus, e quando alguém os critica, vira um bicho mais feio do que já é.

- To vendo que você parou com aquela mania de criticar os outros. Parabéns, chefia, nossas cidades têm ido de bem a melhor, não carecem mais aquelas palavras antipáticas...


- De bem a melhor, Bonjesino?

- De ótimo a excepcional, retrucou.

- Foi o que a Maga Patalógica e a Madame Min disseram..., repliquei.


- Hein?, arregalou os olhos de King Kong.


- As bruxas do Disney. Elas estão morando aqui porque dizem ser um lugar em que “as coisas vão de bem a melhor”.

- Te conheço chefia. Chamou as moças de bruxas só porque elas concordam que nossas cidades estão organizadas, crescendo a cada dia. 

- E tem mais, continuou o ciclope com as pontas das sobrancelhas voltadas para cima, em tom ameaçador:

- Vou procurar saber onde mora esse tal de Disney e contar a ele que você chamou suas meninas de bruxas!

- Disney está morto, informei.

- Por isso você fica aí difamando as duas...

- Não estou difamando ninguém. Nunca leu um Almanaque Disney? São duas personagens de desenhos infantis...

- Explica direito...

- Nas histórias, a Maga e a Min são bruxas. E, como tal, tudo está de “bem a melhor” para elas quando estão de mal a pior para nós.


O semblante do colosso transformou-se. 

Acho que um desses brutamontes de lutas-livres sentiria um frêmito de medo se visse a cara do homem naquele instante.

Mas não careceria, Bonjesino é pacífico. 

Mesmo assim, guardei uma distância estratégica para sentir os trovões e a tempestade que prenunciavam.

- Agora você vai me ouvir, ordenou.

- Sou todo ouvidos...

- Veículos de todo tipo; praça nova; abrigo de crianças; creche; Corpo de Bombeiros que vai vir; saneamento das folhas de salários; contratação de concursados em número nunca antes visto ou imaginado; finanças em dia...

- Pare aí, também ordenei. 

Vendo as pontas das sobrancelhas voltadas para baixo, continuei: 

- Cometi um exagero semântico. “De mal a pior” foi só para colocar a Maga e a Min na conversa, adoro as duas. Na realidade as cidades têm melhorado, é forçoso reconhecer. 

Mas não sei se pelo pouco tempo que me resta para desfrutar, ou pela minha ansiedade velha de guerra, acho que as coisas andam lentas demais...

- Mas...

- Deixa eu continuar. Contudo, exceto nas localidades das praças principais, nossas cidades continuam feias, urbanização caótica, trânsito desorganizado, ruas esburacadas, iluminação pública deficiente, sinalizações inexistentes, o pouco verde acizentado por falta de cuidados...


Parei a enumeração das mazelas ao perceber que as sobrancelhas desenharam semblante irônico. 

- Só mudar de cidade... Não gosta daqui, vá pra outro canto...

- Vou não. Quem disse que não gosto? Justamente por gostar, fico e reclamo.

- Vai melhorar mais, chefia. 
Vê a quantidade de cidadãos e cidadãs interessados em ser candidatos? Somos privilegiados. Todos só estão pensando no bem de nossas cidades e do nosso povo...

- Passe bem, Bonjesino, interrompi-o bruscamente antes que minha integridade física ficasse em risco se continuasse o papo. 

Paciência tem limites até para os pacatos.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em setembro/2011