Fora a Estrada de Rosal, feita pelo Estado e inaugurada em meados de 2004 (rodovia que o bom-jesuense aguarda desde a época em que se rascunhava a Bíblia), e um ou outro benefício pontual, esporádico, nada de mais consistente tem acontecido por estas bandas desde 20, 30 anos atrás.
Incrível, incompreensível, desconcertante, perturbadora a sensação de que cidadãos e cidadãs "determinados" na política local já há algum tenebroso hiato rareiam como Stradivarius.
Determinados, quero dizer, em não permitirem que seus interesses próprios se sobreponham aos da coletividade; determinados na coragem, no destemor de enfrentar lobbies e interesses subalternos dos que agem em detrimento da massa;
Determinados em evitar marolas, frases de efeito, discursos hipócritas, cabotinice, mostrando o amor que sentem por sua cidade com atos, atitudes e ações objetivas, arrojadas, transparentes e criativas, e não com os velhos clichês manjadíssimos pela dissimulação;
Determinados em liderar, na verdadeira acepção do termo, que se traduz no talento e na vocação de convencer, mobilizar, unir e harmonizar em prol do bem comum;
Determinados em porem o dedo na ferida e, sem se acovardarem, apontar problemas e dar os nomes de seus causadores;
Determinados em sentir vergonha, pejo, indignação e revolta com a situação atual de seu município, que não bastasse estar no fundo do poço público-gerencial, uma pequena parte de seu estrato social falida moralmente contribui para desonrá-lo ainda mais, conspurcando seu slogan oficial ao transformá-lo em "é 'ruim' viver aqui".
A portentosa "Operação Epidemia" deflagrada pela Polícia Federal, que prendeu 31 pessoas e deixou quase 2.000 de cabelos em pé pela ameaça de investigação de suposta fraude contra a Previdência Social foi como a laje no sepulcro.
Das barrancas do Amazonas aos Pampas gaúchos, Bom Jesus foi retratado em horário nobre como um lugar marginal, no qual um em cada 10 beneficiários do INSS teria obtido suas benesses de forma ilegal.
Daí a tarefa de ressuscitação de seu organismo público se tornar ainda mais árdua, mais extenuante, porque será preciso restaurar para além da capacidade organizacional e financeira, o amor-próprio de uma população apática, cuja capacidade de reação desvanece-se mais profundamente quando percebe que não é espoliada moral e economicamente apenas por políticos desonestos.
O quinto prefeito da gestão 2005/2008 tomou posse em 29/6. Haverá um sexto? Pelo pique da remada pode haver, Perfeitamente. Nada mais parece causar espécie.
Ser prefeito aqui está se tornando o mesmo que ser padre no inferno.
E o porquê desse sortilégio numa cidade brasileira como outra qualquer, mas que ao contrário não cresce nem se moderniza, ainda que receba até royalties do petróleo sem produzir uma gota sequer do ouro negro?
Será que, como a tuberculose do poeta, a única coisa a fazer é tocarmos (sobretudo, dançarmos) um tango argentino?
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em junho/2008