Desviando-me da armadilha do repúdio ao Congresso como um todo, onde há honrosas exceções, havemos de perceber que tais frequentadores impregnam o ambiente com seu ranço de má vontade em alterar qualquer vírgula nas leis que possam contrariar seus interesses pessoais.
Alguém por acaso espera que Naya sinta vontade em mudar o Código Penal, por exemplo, se com 10% de mudanças seu destino seria as grades?
Ou que desejasse dotar o INSS de mecanismos ágeis para a arrecadação, se ele é um dos maiores devedores da Previdência?
A sagacidade desses tipos contamina em efeito dominó muitos dos seus pares aparentemente hem intencionados. É difícil resistir a sofismas bem concatenados de bandidos, sim, mas perspicazes.
Além do mais, uma carona num jatinho particular ali, um apartamento aqui, um empréstimo sem juros e a fundo perdido acolá, costumam reverter caráteres nem tão convictos.
Naya não será preso. Roubou, falsificou, corrompeu, matou, mas através de renomados advogados pagos a peso de ouro logrará escapar.
Será mais um beneficiado pelas filigranas jurídicas num Código injusto - que ele ajudou a manter ou criar, mas não terá sido culpa dos profissionais da Justiça desaparelhada e obsoleta,vitimada também de alguma forma por seus truques.
Sua crença na impunidade é tanta que, certa feita, disse textualmente: “O preço da Justiça está no canhoto do meu cheque”, de acordo com o jornalista Salomão Scwartzman, que reproduziu a frase em seu programa do dia 3/3/1998 na Rede Manchete.
Ou então, “falsifico mesmo”, frase reprisada dezenas de vezes pela Rede Globo.
O gosto amargo que fica de toda essa canalhice é que ele matou gente. Matou fisicamente, matou moralmente, matou economicamente, matou emocionalmente! Destruiu sonhos, projetos de vida, recordações!
E ficará sem castigo porque, da mesma forma que determina seu próprio salário, determina também sua impunidade!
A menos que... MUDA, BRASIL!
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em Março/1998