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27 de mar. de 2013

Comércio de Bom Jesus precisa valorizar e respeitar seus consumidores


Num país em recessão, com índice de desemprego nos píncaros da glória e dinheiro mais escasso do que chuvas no Nordeste, o comércio de Bom Jesus do Itabapoana se vale de muita criatividade aliada a simpáticas ações e atitudes para atrair e cativar a já diminuta clientela, certo? ERRADO!!!

Sem querer generalizar e até mesmo louvando as gloriosas exceções, percebo que aparentemente a crise não assusta lojistas burocráticos que pouco ou nada fazem contra a mesmice, que jamais procuram arejar o ambiente impregnado de uma primitiva ordem estabelecida. 


Um dos pontos negativos desse comércio é a percepção, diria mesmo, sua convicção, há décadas imutável, de que o consumidor precisa mais do lojista do que ele deste.


A cultura do tratamento por vezes rude e até grosseiro em alguns casos refletem o provincianismo, num sentido pejorativo do termo, que infelizmente está encruado nessas plagas. 

Sem precisar gastar muito as teclas, basta que se compare o clima de cordialidade, atenção e preparo quando se entra em lojas daqui e doutras bandas. 

Ser cortês, gentil, demonstrar interesse e tolerância com o freguês parecem qualidades distantes, talvez por vergonha da demonstração do afeto ou despreparo mesmo (devo reforçar a existência de exceções, citando por exemplo, entre outros, o profissionalismo do pessoal dos Supermercados Varejão. 

Um simples boa-tarde acompanhado dos sorrisos de seus empregados é um delicioso oásis para desfrutar da sensação de que nem tudo está perdido).

Outro problema é a insípida variedade da oferta. Não se pode, por aqui, desejar algo que fuja ao convencional, seja uma peça mais invulgar, de automóvel, ou um baralho do Yu-Gi-Ho. Quando um hercúleo comerciante disponibiliza mercadorias menos protocolares elas custam invariavelmente mais (e muito mais!) do que em outras praças.

O comércio de uma maneira geral parece cartelizado e, acho eu, um presumível acordo de “cavaleiros” (a falta do h é proposital) mutila a lei da oferta e da procura, implacável no favorecimento ao consumidor e na modernização das atividades econômicas de um lugar, de uma região. 

Você vai a uma locadora de vídeo, por exemplo, e encontra quase que rigorosamente os mesmos títulos, pelos mesmos preços (salgados, diga-se de passagem, porque uma perversidade dessa coalizão é a preferência de se ganhar muito sobre pouco, praga do imediatismo), prazos, etc.

Se precisar de um computador, peça-o com uma semana de antecedência, no mínimo, ou dirija-se a outra cidade. 

Nossas lojas usam invariavelmente o mesmo critério de encomendar o processador (o coração da máquina) e outros componentes mais caros aos fabricantes somente quando você sacramenta o pedido, porque não costumam ter os produtos em estoque. 

Isso é até compreensível dada a tenebrosa circunstância da economia brasileira, mas será que nem uma mísera unidade é possível manter estocada para agradar o cliente, dando-lhe a sensação de agilidade, ou o “acordo” não permite?

Os preços das coisas por aqui, fiéis à filosofia básica dos cartéis, pouco diferem. Uma TV de 20”, da marca Phillips, som estereofônico, modelo 20PT4331, custava em 9/10/03, à vista, R$ 659 nas Lojas Borges (pechinchando, o vendedor concordava em R$ 650), R$ 629 na Muzeu Eletrodomésticos e R$ 626 na Eletrocenter (o modelo estava em falta na Braga Móveis, que ofereceu como alternativa uma Toshiba de características semelhantes por R$ 610). Financiada em seis vezes, saía por uma média de R$ 120 mensais.

Vale ressaltar que todas as lojas, exceto a Eletrocenter, cobram juros adicionais médios de 4% ao mês sobre o valor da mensalidade em atraso. Neste ponto não se pode dizer que a Eletrocenter deixou de inovar: os juros cobrados aos inadimplentes, assombrem-se, é de 9% ao mês, ou 0,30% ao dia, isto é, mais caro do que o cheque especial cobrado pelos bancos - os agiotas oficiais brasileiros -, que estão em média 7,5%. 

Quer dizer, a loja dá logo o tiro de misericórdia em quem já não vai bem das pernas!

À guisa de colaboração conclamo o pessoal do meio a arregaçar as mangas com a finalidade de abolir esse atavismo, essa cultura dos primórdios, onde a prepotência era até compreensível onde as novidades vinham em lombo de mulas. Quem não queria, havia quem quisesse. 

Investir nos recursos humanos hoje em dia, na capacitação gerencial, estar em sintonia com sua era, apostar na modernidade, ser ousado e sobretudo valorizar o seu maior patrimônio, que é o público consumidor, são condições essenciais para o crescimento. 

A Associação Comercial, por outro lado, pode e tem o dever de interagir, de liderar esse processo. 

Ela também precisa se modernizar, acompanhar as tendências mercadológicas em constante ebulição; propor estratégias de atuação em cada setor específico; 

Promover agressivas campanhas institucionais; estabelecer um marketing incisivo, abrangente e de resultados duradouros, enfim, fazer marulho em águas profundas abandonando de vez a superficialidade do momento. 

Chega de descaso, abaixo definitivamente o amadorismo e a improvisação. 

Essa maldita necessidade que a gente tem de destinar parcelas generosas de nosso dinheiro para reforçar a economia de Itaperunenses, Campistas, Cachoeirenses e outros, na busca febril de preços mais em conta, de um produto que fuja à mediocridade da padronização, de mais afabilidade até, precisa acabar definitivamente. 

Nós também temos colhões! Um comércio moderno e pujante ganha legitimidade para exigir do segmento político ações arrojadas e inteligentes para tirar o município do marasmo socioeconômico reinante há longo e cruciante tempo, coisa que somente será conseguida com uma reformulação radical dos velhos conceitos e da doutrina de antanho.

Autor: José Henrique Vaillant - publicado em outubro/2003