Os passageiros estão desesperados e com medo, mas a tripulação está segura, confiante de estar no caminho certo.
Seu Comandante-em-chefe tem uma fé inabalável na solidez e na boa estrutura da embarcação, por isso a colocou nessa rota perigosa e traiçoeira.
Ignora com desfaçatez impressionante os gemidos de angústia da grande maioria a bordo, numa ingratidão a quem conferiu-lhe a legitimidade da perpetuação no comando.
O cenário no interior do navio é deprimente, desolador. Os passageiros encontram-se enfastiados pelos balanços violentos das vagas conhecidas como “recessão”, muito agitadas em todos os flancos.
Outros já sucumbiram por inanição ou se suicidaram ao depararem-se com os terríveis bancos de areia denominados “desemprego e falência”.
Enquanto isso, na cabine, a tripulação, envolta numa redoma à prova de intempéries ignora a hostilidade do tempo e os clamores das galés.
E a Nau “Real”, a nau dos insensatos, singra os mares bravios com seu destino às profundezas abissais se os piratas não a dominarem o quanto antes.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em março/1998