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16 de fev. de 2013

Cartas ou folhetos anônimos: obras de seres que me despertam compaixão

Amável leitor, graciosa leitora. Certamente vocês já viram circulando por aí algum folheto ou carta apócrifos, anônimos, mas não refletiram quanto aos princípios dos mentores ou produtores desses materiais e do porquê escondem-se no manto do anonimato, distribuindo-os de maneira furtiva, oculta, clandestina. Permitam-me expor o que penso:

Da personalidade
Tratam-se, a meu juízo, de pessoas sem caráter, doentes da alma, que Nelson Rodrigues denominaria ´cretinos fundamentais´, capazes de matar pai e mãe para entrar na festa dos órfãos. 


A indignação das vítimas para eles é o prazer supremo, e sendo assim merecem sentimentos de piedade e comiseração

Sim. A misericórdia deve contemplar aos que sofrem, aos amargurados com a grandeza que se esvai sob o peso do orgulho, da arrogância, da vaidade; aos que se veem envelhecidos na idade cronológica, porém envilecidos na da razão, o que lhes subtrai pudor e senso do ridículo.

Ao cidadão e cidadã que já ultrapassaram o “Cabo da Boa Esperança”, os costumes e as tradições humanas negam-lhes peremptoriamente o direito às travessuras infanto-juvenis. Se insistem tornam-se vulgares, bizarros. 

O poeta português Antero de Quental, a um ancião que o desapontou com uma atitude infantil, disparou: “Levanto-me quando os cabelos brancos de V. Exa. passam diante de mim. Mas o travesso cérebro que está debaixo e as garridas e pequeninas coisas que saem dele, confesso, não me merecem nem admiração nem respeito, nem ainda estima. 


A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V.Exa. precisa menos cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta de reflexão”.

Ou aos que, desde jovens, optam pela deterioração da personalidade, o que os levará da mesma forma a uma vida que jamais vai lhes outorgar a satisfação completa, sustentada, à plenitude do gozo de viver. 

Sempre irá lhes faltar alguma coisa, nunca serão integralizadas suas necessidades materiais e afetivas porque canalhice é incompatível com felicidade e paz espiritual. Ego te absolvo a peccatis tuis in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti.

Do estilo
Normalmente os textos sórdidos, torpes, são mal escritos, repletos de erros gramaticais, onde concordância e ortografia são tão difíceis de acertar quanto o prêmio da Mega-Sena, o que reflete o despreparo educacional dos autores. 

Não que escolaridade seja sinônimo de honradez, não é bem assim. Há crápulas com formação acadêmica, assim como há decência e dignidade na esmagadora maioria dos homens e mulheres com menos preparo escolástico.

O que desejo salientar é que a ausência do banco escolar é agravante nas mentalidades somente equipadas com um ou dois neurônios, já que o estudo, a cultura, poderiam lhes moldar de fora para dentro a percepção de que como seres humanos deveriam contribuir pela edificação moral da espécie, que por uma falha lamentável da matéria, tal instinto primevo lhes foi indisponibilizado desde o útero.

Então não é de admirar um arremedo de gente com seu caminhar trôpego, em quatro patas tão figurativas quanto desditosas, ruminando seu amargor e expelindo fel das entranhas. Senhor, tendes piedade!

Da metodologia
Manjadíssima a fórmula, mas que encontra incautos que nela depositam fé, da mesma forma que ainda há os que caem no conto do bilhete premiado. 

O truque consiste em fornecer uma informação verdadeira, mesclada com uma intercorrência falsa. 

Ao crer acertadamente na primeira, normalmente algo sobejamente de conhecimento público, a pessoa pouco observadora, de boa-fé, por equivocada dedução irrefletida ou desconhecimento de causa também acredita na segunda, satisfazendo o objetivo da canalha.

Por exemplo: determinado gestor público adquire um carro novo, uma casa, uma propriedade rural. 

Fatos verdadeiros. Mas a premissa sugerida pelos infames, de que o fez por intermédio de falcatruas pode ser falsa, ao menos em alguns casos. 

Outro exemplo: a prefeitura realiza obras. Fato. Premissa falsa sugerida pelos patifes: alguém está levando vantagens (o que nem sempre é verdade). E por aí afora.

Há que se perguntar, quando forem desmascarados (e um dia a casa cai), a respeito da sabença de um malfeito, de uma ilegalidade, dos que se mostram tão “zelosos” em veicular sorrateiramente supostas maracutaias, por que não o fazem de peito aberto?

Por que não recorrem à Justiça, devidamente documentados de suas “descobertas”? Por que, sendo tão “honestos”, tão “cândidos”, tão “honrados” não procuram as vias da legalidade? 

Por que escarafuncham-se nos subterrâneos da indignidade, covardemente, sub-repticiamente, difamando homens e mulheres de bem?

Dos objetivos
A esses valentes não interessa a defesa da moralidade, isso o mais ingênuo petiz de jardim de infância é capaz de perceber. 

Não são os interesses da sociedade que desejam preservar, nem aí estão para os municípios em que residem. 

Se fosse, atuariam na planície, com coragem e destemor, longe do valhacouto em que se encafurnam para redigirem os textos perniciosos e Deus sabe mais o quê.

Pela forma e estilo, é lícito desconfiar que o que propagam mentirosamente no presente é o que verdadeiramente gostariam de praticar ou intentarão no futuro. 

Quem tiver olhos de ver nas entrelinhas nunca cairá na esparrela dessas camarilhas farsantes, nunca propiciará habitat aos parasitas. Em vez disso, lhes dedicarão preces.

Finalizando
Os líderes de campanhas políticas que não compactuam com isso deveriam policiar melhor seus áulicos, porque trata-se de um tiro no próprio pé. 

O eleitor consciente, esclarecido, tende a votar contra, inclina-se a punir nas urnas quem procura lhe manipular, lhe tratar como joguete, como reles marionete. 

É sempre bom não perder de vista que o Brasil está mudando, que os brasileiros desejam uma política propositiva e moderna, sem baixarias. 

Quem for incapaz de perceber isso arrisca-se a perder o bonde da história e estacionar melancolicamente no seu limbo.

Desejo que essa gente tacanha, piegas, grotesca e dissimulada emerja da esgotosfera e venha desfrutar da luz que também lhe é destinada. 

Sinceramente me entristeço pela pequenez dessa gentalha, pela enorme fragilidade de princípios. E sinto pena, muita pena!

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em setembro/2012