As cenas mostradas pela TV recentemente, onde pessoas disputavam os cereais enterrados nos monturos da favela revelam de forma nua e crua como a fome grassa neste país!
Dia destes o 'espetáculo' transmitido no horário nobre eram crianças brasileiras alvoroçadas qual bandos de aves necrófagas disputando um espaço nos lixões de uma grande metrópole, a fim de calarem sua maldita fome.
Essas e outras situações que
degeneram a dignidade de um ser humano, e o faz igualar-se às
espécies irracionais mais primitivas, deve ser motivo de urgentes
reflexões com tomadas de atitudes práticas mais urgentes ainda por
parte de toda a sociedade bem alimentada, das instituições
religiosas, das entidades, dos governos.
Ninguém poderá se omitir, nem mesmo a boa parcela de “Pôncios Pilatos” de todas as classes sociais - que não economizam água na lavagem das mãos -, por uma simples razão: não haverá, no futuro, uma sombra de organização institucional se não se começar a erradicar, hoje, a condição de miserabilidade de amanhã.
Ninguém poderá se omitir, nem mesmo a boa parcela de “Pôncios Pilatos” de todas as classes sociais - que não economizam água na lavagem das mãos -, por uma simples razão: não haverá, no futuro, uma sombra de organização institucional se não se começar a erradicar, hoje, a condição de miserabilidade de amanhã.
Corremos o risco de regredirmos ao
homem de neandertal e já se veem as nuvens negras formarem-se no
horizonte: presídios hiperabarrotados com rebeliões e fugas
constantes, e a violência, de todas as formas imagináveis, marcar
sua posição a ferro e fogo junto ao seio da sociedade e se
banalizar como se fora uma atividade natural do homem.
O egoísmo que se generaliza de forma
assustadora e se traduz na busca frenética do poder material, eleito
como único valor a nortear o rumo de uma existência, está
trazendo consequências desastrosas à qualidade de vida na Terra, já
que as riquezas existentes são insuficientes para contemplar a todos
dentro de uma estrutura desigual e injusta.
A ânsia desenfreada na busca ao vil
metal, a ambição desmedida de poder, são legados perversos para
as gerações vindouras pois se apartam inteiramente das noções
mais básicas de solidariedade, comprometendo as instituições
cidadãs do amanhã.
A classe política é, disparada, a
maior culpada por uma criança ingerir lixo, submeter-se à mais servil escravidão ou prostituir-se desde os sete ou oito
anos de idade para sobreviver.
É difícil entender como o presidente do Brasil não tem a noção do ridículo ao posar de grande estadista junto às lideranças dos países mais desenvolvidos, daqueles que já perceberam que não é inteligente salvar banqueiros corados em detrimento dos pálidos pelas injustiças.
É difícil entender como o presidente do Brasil não tem a noção do ridículo ao posar de grande estadista junto às lideranças dos países mais desenvolvidos, daqueles que já perceberam que não é inteligente salvar banqueiros corados em detrimento dos pálidos pelas injustiças.
Incompreensível como falta a este
personagem a noção de que em tudo há um limite, até mesmo a
subserviência imposta pela ignorância e fome compulsórias,
ignorando o risco iminente do bando de cordeiros transformar-se em
selvagens enfurecidos, desencadeando um estouro de consequências
imponderáveis.
As cenas originadas do desespero pela
fome chocam! Ver-se nos lixões criaturas raquíticas, descalças,
desgrenhadas, semidesnudas, rostos manchados pela mistura das
excrescências nasais com uma espécie de resíduo betuminoso oriundo
da decomposição do lixo, muitas ainda na mais tenra idade, em
posição desvantajosa na caça febril de um material que lhes renda
alguns trocados, ou de sobras de alimentos mais aproveitáveis para
comerem, é demasiado forte à mais estéril sensibilidade.
E a revolta cresce em proporções
planetárias quando se sabe que o dinheiro que poria fim a essa
infâmia, com generoso troco, é surrupiado por robustos urubus de
terno e gravata cujo valhacouto-mor fica no Planalto Central.
Exterminar sem dó nem piedade essas aves de rapina a sociedade dita mais esclarecida e mais politizada pode e deve fazê-lo.
E aquela que de uma ou outra forma se nutre das sobras dos butins dos urubus-reis, é bom se aliar nessa conspiração contra a fome, se não por generosidade, pelo próprio instinto de sobrevivência, sob pena de um exílio forçado em suas fortalezas blindadas mais breve do que se imagina.
Exterminar sem dó nem piedade essas aves de rapina a sociedade dita mais esclarecida e mais politizada pode e deve fazê-lo.
E aquela que de uma ou outra forma se nutre das sobras dos butins dos urubus-reis, é bom se aliar nessa conspiração contra a fome, se não por generosidade, pelo próprio instinto de sobrevivência, sob pena de um exílio forçado em suas fortalezas blindadas mais breve do que se imagina.
Que tal começarmos a faxina cívica em
outubro próximo?
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em março/2002