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Existiu
em Bom Jesus um sujeito folclórico - já não me lembro o nome, mas
com certeza muitos daqui se recordam -, que tinha o talento incomum
de produzir frases rimadas em respostas a colocações diversas,
mesmo as mais singelas.
Embora
não agressivo, bem no espírito folgazão, que mesmo as “vítimas”
de primeira viagem aceitavam numa boa, as réplicas eram
invariavelmente pornográficas:
-
Como vai você?, alguém que lhe perguntasse, ele respondia:
-
Meu pau tu vai “querê”.
-
Deixa de ser feio!
-
Te comia todo dia, mas ontem você não veio...
-
Seu time levou uma surra no Maracanã...
-
Já curei as minhas mágoas com a gostosa da sua irmã!
E
por aí afora, mas muito mais bem elaboradas e complexas do que os
exemplos acima, que inventei agora, neste instante.
Era mesmo um poeta criativo na seara pornógrafa!
Seria
certamente mais edificante, todavia, se em vez de pornografia ele
respondesse com pedacinhos, que fossem, de poesias:
-
A corrupção no Brasil é tanta...
-
Cesse tudo o que a antiga musa canta/ que outro valor mais alto se
alevanta...
-
Eu a amo mas ela não me ama..., sabe..., a Inez...
-
Por minha quero ter-vos e não posso/ por vosso podeis ter-me e não
quereis...
-
Quanta violência! O que você acha do retorno dos militares?
-
Andrada! Arranca este pendão dos ares!/ Colombo! Fecha a porta de
teus mares!
-
Estou triste, sinto na alma a dor, muita amargura...
-
Só a dor enobrece/ e é grande, e é pura/ aprende a amá-la, que a
amarás um dia/ então ela será tua alegria/ e será, ela só, tua
ventura...
-
Ainda não encontrei minha alma-gêmea. Espero que aconteça antes da
idade tardia...
- Essa
que eu hei de amar perdidamente um dia/ será tão loura, e clara, e vagarosa e
bela/ que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela/ trazer luz e
calor a esta alma escura e fria...
-
Se eu for eleito, ninguém vai roubar, vamos fazer de tudo pela nossa
gente...
-
Mentem de corpo e alma, completamente/ e mentem de maneira tão
pungente/ que acho que mentem sinceramente.
-
Não dá mais para morar neste lugar abandonado. Que farei?
-
Vou-me embora pra Pasárgada/ lá sou amigo do rei/ lá tenho a
mulher que quero/ na cama que escolherei.
-
Que pobreza! Nem posso me casar..., ganho tão pouquinho...
-
Quadro paredes, uma cama e nada mais/ eram só o que consistia nosso
ninho/ onde em ritmos e loucuras saturnais/ almas fundiam-se no ápice
do carinho...
E
assim por diante, aos milhões. Pena que tão poucos apreciam
poesias, acalantos do coração e da alma!
Autor: José Henrique Vaillant