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14 de abr. de 2013

Minha nova devoção: Santa Zilda Arns

Tudo o quer tinha de ser falado da médica pediatra e sanitarista Dra. Zilda Arns Neumann já foi falado. 

Mas não posso deixar de acrescentar alguma coisa a mais, devo tentar embora com a "força" de minhas limitações ao menos fornecer uma sinopse da dor que me vai na alma e no coração pelo desaparecimento de tão nobre ser humano.


Quem nunca brincou com o velho e bastante desgastado dito de que gente ruim não morre? 

Foi a primeira coisa que lembrei ao associar os escândalos políticos da hora, aquele do governo distrital de Brasília com o terremoto no Haiti. 


Enquanto essa gente entope meias e cuecas com dinheiro, boladas e mais boladas ilimitadas, Dona Zilda levava às crianças alimento para o corpo e a mente, transformando sua Pastoral na mais bem-sucedida instituição humanitária de que se tem notícia no globo terrestre. 

Sem medo de ser chinfrim, sem receio do lugar-comum, enquanto ela alimentava as criancinhas, eles as matam de fome, entendendo essa fome das mais variadas maneiras: fome de saúde, de educação, de moradia decente, de melhores condições de vida, de dignidade, enfim. 

E de fome mesmo, já que as esmolas oficiais nem sempre chegam para todos - as meias e as cuecas precisam estar sempre abastecidas para o caviar de cada dia, ora essa, ninguém é de ferro.A Dra. Zilda, vale lembrar, não cuidava apenas de gente nova em sua Pastoral da Criança que atende a quase 2 milhões de famílias em 4.500 municípios brasileiros, em 50.000 comunidades, com um exército de quase 300 mil voluntários (90% de mulheres). 

Desde 2004 ela coordenava também a Pastoral da Pessoa Idosa, onde cerca de 50 mil anciãos recebem atendimentos variados. 

E tudo isso gastando muito pouco, aproveitando sobras de alimentos (a sua multimistura, uma farinha riquíssima em nutrientes, produzida com sobras de alimentos salvou milhares e milhares de vidas), orientando quanto as maneiras de prevenir doenças, de controlá-las, incentivando o uso do leite materno, do soro caseiro, realizando exames, pesagens, pedindo e organizando doações.
Tem coisas na religião que a gente não entende, fica na conta do mistério que é o elemento que nos faz manter a fé. 

Porque é difícil compreender como um Deus justo, onipotente e amoroso leva para si de forma relativamente precoce uma alma dessa natureza, justo no momento em que ela ocupava um lugar numa das sucursais da Casa do Senhor, onde emprestava sua voz meiga e caridosa com o intento de minorar o sofrimento lancinante do povo haitiano, paupérrimo, oprimido, humilhado, carente de tudo, à mercê de lideranças políticas violentas e corruptas.
Apego-me no raciocínio de que Deus a chamou porque quer torná-la santa imediatamente. O que, para mim, nem é preciso oficializar. 

Ela já é a minha nova devoção, entidade a quem evoco nos momentos em que a rudeza da vida insistir em querer me tornar insensível, egoísta, arrogante. 

Santa Zilda, velai pelos sobreviventes no Haiti, que a esta altura muitos devem questionar-se se foi realmente sorte manterem-se vivos. 

Rogai por todos nós.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em fevereiro/2010