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30 de abr. de 2013

Deixá-lo morrer é covardia! O que mais causa danos ao Rio Itabapoana é o desprezo e a insensibilidade

Em abril de 1995 começou a ser elaborado na sua concepção acadêmica 0 Projeto Managé, criado pela Universidade Federal Fluminense - UFF a partir de uma solicitação feita à universidade por representantes das cidades limítrofes a Bom Jesus do Itabapoana, no Noroeste do R.J., e a de Bom Jesus do Norte, no Extremo-Sul do E.S., duas das que mais sofrem pelos problemas ambientais que a afetam o Rio Itabapoana.



Lançado oficialmente em 1997, o Managé foi um programa pioneiro que visava empreender ações integradas de ensino, pesquisa e extensão aplicadas à gestão pública, em prol do desenvolvimento regional sustentável da Bacia Hidrográfica do Itabapoana (264 km de extensão), integrada por 18 municípios dos Estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

A UFF, no intuito de viabilizar todas as atividades do Projeto, além de desempenhar o papel de instituição coordenadora, tem, ou tinha como função exercer o de agente articulador, mediador e integrador nas instâncias politica, institucional, técnico-cientifica e financeira, através de parcerias com órgãos federais, estaduais e municipais e com universidades brasileiras e estrangeiras, organizações não-governamentais e iniciativa privada. 

A duração estimada de 20 anos foi o tempo julgado razoável para que fosse estabelecida uma mudança das condições socioeconômicas, políticas e culturais que garantissem a sustentabilidade da Bacia.

Projeto submerso
Este projeto, no entanto, parece estar fazendo água. O próprio site oficial do Managé está desatualizado desde o início de 2000, remanescendo como chamada de capa do seu último informativo a inauguração da Usina de Rosal.


Pouco ou nada se percebe de melhorias para o rio, seja no aspecto da integração politica pela busca de uma metodologia única para o portentoso objetivo comum aos 18 municípios, seja nas próprias ações efetivas de recuperação do importante manancial.

Ate por isso, e fundamentalmente por ser com certeza o município que mais sofre principalmente pelo assoreamento que forma a cada dia mais e mais "prainhas" de areia grossa, preta de resíduos sólidos no leito do rio, que faz qualquer cheia virar enchente, louvável foi a atitude de Bom Jesus do Norte em tentar chamar a atenção para os graves problemas do Itabapoana através da Descida Ecológica com canoeiros de ONGs ambientais do E.S. na última Festa do município, realizada em fins de abril último.

A numerosa população do Bairro Silvana, que serpenteia quase toda a orla urbana bom-jesuense-do-norte do rio, sofria os revezes da natureza em periodicidade intermitente, mas nos últimos anos o drama tem sido contínuo. Isto é sintomático de que a doença, em vez de regredir, está em alarmante progressão!

Falácias

Lamentável foram, todavia, a improvisação e a falta de planejamento para o evento, parecendo ter sido inserido às pressas na programação da Festa, num impulso que pareceu mais para cultuar aparências do que propriamente alcançar a finalidade real a que se destinava.

Embora de toda forma, repita-se, tenha sido uma atitude louvável, a pouca divulgação, o curto tempo para tonificar o apelo prejudicaram consideravelmente a adesão das pessoas à Descida, que na realidade não parece ter estimulado sequer as autoridades politicas da região, inclusive as das duas cidades citadas, as que mais sofrem as consequências das agressões ao rio, e em represália, do rio!

As cerca de 20 embarcações, entre canoas, caiaques e botes, devem ter acomodado umas 30 pessoas.

Na ponte que une as duas cidades, um número até expressivo de populares assistia a navegação, sem no entanto identificar seus representantes, exceto um vereador de Bom Jesus do Norte.

De Vitória vieram dois políticos de relativa expressão: a deputada estadual Luzia Toledo e o ex-presidente
da Assembléia e atual secretário Estadual de Agricultura e Meio Ambiente do E.S., César Colnago.

Da região, apenas os prefeitos de S.J.Calçado, de Apiacá e de B.J.Norte. O de Bom Jesus do Itabapoana mandou uma representante porque tinha compromissos oficiais mais importantes no horário programado para a Descida.


Conclusão
Não serão com ações pífias e de conteúdo empreendedor superficial como esse que o Rio Itabapoana poderá oxigenar melhor sua vida aquática, recuperando quase que milagrosamente a própria saúde.

Em primeiro lugar, parece claro, é preciso surgir lideranças indiscutivelmente comprometidas com a ideologia do respeito ambiental, sinceras na sensibilidade e na disposição ao trabalho com criatividade.

Daí à persuasão, ao diálogo, à distinção do parceiro realmente disposto e então à união para ações conjuntas.

Ainda que fosse possível que só dois dos 18 municípios cuidassem do pedaço do rio comum a estes (o que não é, absolutamente), de que adiantaria?

Antes que o Itabapoana se transforme num Tietê, rio que edificou a maior megalópole do país mas parece hoje estar em coma irreversível, urge que um prodígio de vontade coletiva aconteça para que se possa aproveitar o bom momento econômico do país que está "botando dinheiro pelo ladrão" sem saber em que empregá-lo.

O Governo Federal reclama a ausência de projetos consistentes para uma gama variadíssima de setores, entre os quais os relacionados ao meio ambiente, e os municípios podem (e devem) botar a cachola própria ou a de terceiros para funcionar em busca desses recursos.

É necessário abolir a acomodação de quem se contenta em ficar a reboque dos respectivos Estados, à mercê do humor, da disposição e da consciência de seus governadores, tirando ad eternum as castanhas do fogo com mãos alheias.

O momento, se não for agora, poderá ser nunca. E às populações cabe a tarefa de exigir de seus representantes as atitudes em prol do rio que as serve, repudiando os discursos de pura retórica que não passam de escritas nas águas do Itabapoana, turvas de poluição e de descaso.


Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em maio/2007