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17 de mar. de 2013

Trevas na liberdade. Corremos o risco de trocarmos a liberdade de reclamar da fome, por um bom prato de comida

O Brasil é um país sui generis! Que outro lugar um regime ditatorial ferrenho, perpetuado em 20 longos anos deixaria saudades?

Onde mais as sombras da exceção dariam sinal de falta pela terrível insolação decorrente dos desvirtuamentos de uma classe política despreparada e incompetente, entreguista, cínica e maquiavélica, para não dizer outras coisas?

 


A tenebrosa ditadura conseguia um menor teor de periculosidade em comparação com o liberalismo criminoso que aí está! Tivessem os coturnos continuado a estrangular a jugular da liberdade, ladeados por fuzis e metralhadoras, provavelmente não nos encontrássemos ora tão infelizes!

Fracassamos rotundamente. Gastamos até o último grau toda a nossa criatividade durante 20 anos na busca obstinada por liberdade, mas nada soubemos fazer com ela depois que a conquistamos, a não ser produzir um monstro amorfo e voraz a sugar freneticamente tudo o que vê.


Era melhor a ditadura dos generais ou essa nova ditadura do capital, vulgo mercado? Era melhor tomar recursos emprestados para financiar o desenvolvimento, ou para patrocinar o sarau dos especuladores nativos e estrangeiros, e a boa-vida da realeza nacional? 



Ainda que com arrepios de pavor pela lembrança do sinistro verde-oliva, havemos de reconhecer o considerável crescimento experimentado pelo país sob o seu tacão, em contraste com o torpor e a paralisia que trouxeram os ares democráticos, como no caso do Espírito Santo, para ilustrar.


É profundamente desapontador, de certa forma, que estivéssemos imobilizados e proibidos de palpitar sobre os destinos da Pátria, enquanto os generais transformavam a Cia. Vale do Rio Doce na maior corporação portuária do mundo. 

Que por intermédio deles a Petrobrás se obrigasse a explorar as reservas de óleo e gás em solo capixaba; que construíram a Siderúrgica de Tubarão, a Aracruz Celulose, a Samarco Mineração e seu Porto Exportador de Ubú; 


Que construíram as unidades portuárias de Capuaba e do litoral de Aracruz; que criaram o Fundap, o Bandes, o Geres; que completaram a BR 252, ligando Vitória a Belo Horizonte, constituindo-se no maior corredor turístico do Estado; que construíram a terceira ponte. Tudo isso só no pequenino Espírito Santo, imaginem no resto do Brasil.


Pois bem. Eles se foram, execrados com justa razão por terem nos causado tantos sofrimentos, mesmo assim. E nos libertamos. Embriagamo-nos de civismo, de liberdade, de nacionalismo. 


Foi bom, claro, para a maioria de nós era como o primeiro amor. Mas não fomos felizes por muito tempo, já que escolhemos mal aqueles que em tese deveriam nos conduzir à porta principal do primeiro mundo. 


Continuamos na área de serviço e aí estacionamos, de vez que a dívida decuplou-se e eleva-se em escala vertiginosa implodindo nossos ativos, desgraçadamente insuficientes sequer para amortização de juros.


E a corrupção desbragadamente estúpida, horripilantemente desatinada?


Decerto que ninguém deseja, em sã consciência, o retrocesso aos tempos obscuros e à perda da liberdade, mesmo aviltada e escarnecida. 


Por mais forte que seja essa disposição, porém, arrisca-se ser suplantada pela humilhação das injustiças sociais, detonando reações imprevisíveis.


Cuidemos, pois, de abandonarmos a inércia e partirmos para a busca de alternativas cívicas em resguardo à nossa cidadania, antes que o desespero nos obrigue a trocar a liberdade de reclamar da fome, literal e figurada (e de quem a promove), por um bom prato de comida!


Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em fevereiro/1999