Se a cidade possui bons nomes com os predicados necessários, estes nomes, por um motivo ou outro, estão fora do sistema ou nele não conseguem se impor, assumirem posição de destaque.
O fato é que esta carência, que vinha angustiando a cidade no corredor da morte, por este imbróglio de quatro mandatários num único período acionou o cadafalso e se deleita em tripudiar por sobre os estertores da administração pública.
Nas últimas eleições de 2004 o furdunço político foi novamente protagonizado pelos dois grupos que se digladiaram em 2000, cujos líderes máximos, Carlos Garcia e Miguel Motta, demonstravam que o modelo gerencial que personificavam já se esgotara em suas limitações.
Na ausência de bons projetos, de proposições claras e legíveis, objetivas e factíveis, de metas audaciosas a cumprirem a médio e longo prazos, só restaram os indefectíveis discursos provincianos, abundantes em pieguice e escassos de praticidade.
E a maioria do povo, sem uma terceira via plausível, resolveu caminhar pela quarta vez nas outrora mais candentes e hoje toscas trilhas do decano Garcia, que em menos de dois anos de uma gestão sofrível, enredada numa espessa teia de dificuldades legadas pelo antecessor, licenciou-se por questões de saúde.
Seu vice Paulo Sérgio Cyrillo assume e produz uma oxigenação extra, conseguindo tropegamente tentear a administração quase desfalecida até o corrente mês de maio de 2008, a cinco meses das próximas eleições.
Aí, numa espécie de tiro de misericórdia desferido à cidade como punição por esta crônica carência, a Justiça decreta que os mandatos de Garcia e Cyrillo não valem, foram conquistados ao arrepio da lei por conta de um malfadado bingo imobiliário, cujo sorteio de um apartamento do primeiro teria servido para dotar de recursos a arca da campanha de ambos.
Assume, então, o presidente da Câmara, vereador João Batista Magalhães que, no entanto, não chega a esquentar a cadeira; poucos dias depois a cede ao vice-candidato da chapa derrotada em 2004, José Ari Loureiro Borges.
Isto porque o titular desta chapa, Miguel Motta, desistiu de assumir, presumindo-se que tenha sido para não prejudicar a possível candidatura de sua esposa Branca, já que ele, Miguel, seria considerado reeleito, e a legislação não permite que parentes em 1° grau se tornem candidatos numa terceira legislatura consecutiva.
Incrível, não é? Como num jogo de futebol, o município tem hoje na sua linha de frente, com a incumbência de simultaneamente bater o córner e fazer o gol um cidadão que é o quarto reserva!
Pode não ser caso único, mas certamente é raridade.
Ainda que mereça respeito a capacidade de José Ari, sua reputação de empresário bem sucedido e o fato de se originar de uma família respeitável, convenhamos que sua legitimidade no processo é quase nula, e as probabilidades que tem de realizar coisas úteis num período tão escasso, remotas.
Em suma, foram quatro anos perdidos, que a usina de álcool, por ser no momento apenas uma grande vontade não pode contradizer.
Nas lengalengas jurídicas, nas soluções de continuidade administrativas e na discrepância de quatro estilos diferenciados de governo num mesmo período de gestão, a cidade prostra-se de vez.
Só resta ao bom-jesuense o conforto da esperança.
Esperança de que as torneiras do destino sequem as reservas de fel e passem a espargir bons fluidos numa cidade até privilegiada por royalties da Petrobrás, mas estagnada política, social e economicamente.
Donde se conclui que estão faltando pensadores, líderes na acepção do termo, menos falácia e mais ação, sinceridade mais que hipocrisia, indolência menos que disposição, muito diálogo e talento em agregar.
Bom Jesus precisa, enfim, de alguém à semelhança de JK, que recupere não 50 anos em cinco, mas que em quatro seja capaz ao menos de restituir a personalidade de uma cidade há tempos caudatária por conta de um anacronismo político que lhe impede ser vanguardista.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em maio/2008