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26 de fev. de 2013

Essa não! Ou, como se livrar da claustrofobia pelo susto

Palhares tinha pavor de pequenos espaços fechados. Tremia e suava frio toda vez que se utilizava de elevadores, ônibus e ate mesmo de banheiros. 

Foi a um especialista e descobriu a causa do seu problema: claustrofobia.

Além de tranquilizantes para relaxar, o médico prescreveu-lhe uma terapia curiosa, que consistia em trancar-se diariamente dentro de um armário por umas duas horas, a fim familiarizar-se com os ambientes que motivavam os seus medos.



- Mas doutor, disse ele, - moro numa pequena quitinete, e  por isso não possuo um móvel suficientemente grande que me caiba dentro!

- E não poderia utilizar-se do de algum parente?, retrucou o médico.

- Não tenho nenhum por aqui. Porém..., ficou matutando alguns segundos e... heureca!



- Já sei!, disse com uma expressão de contentamento. - Tenho um amigo, lutador de MMC, que possui um enorme guarda-roupas em seu quarto... 


- Taí, combine com ele, aconselhou o médico.

- O problema é que ele está viajando em férias...

- Espere-o retornar.

- Não. Quero me livrar o quanto antes desse problema que muito tem me afligido. Entre inúmeros embaraços,  diariamente subo e desço uns 500 lances de escada para chegar na empresa, que fica no 25° andar de um edifício no centro da cidade. Tem vezes que até desisto de descer para o almoço...

- Realmente, um problema e tanto..., observou o doutor.

- Já não aguento mais a gozação dos colegas que me apelidaram de o pagador de promessas, outros sugerindo que eu troque minha profissão para ascensorista ou limpador de cacimbas.

- Situação deveras constrangedora...

- Constrangedora? Calamitosa, isso sim. Por isso quero me livrar rapidamente desse problema e vou começar hoje mesmo com a terapia.

Mas o seu amigo não esta viajando? Como irá utilizar-se do guarda-roupas dele?

- Humm..., hummm..., sua casa tem uma janela com um defeito na fechadura que permite abri-la por fora. Só eu sei deste segredo, afinal somos muito ligados. Então, quando ele e a esposa retornarem, esclarecerei tudo, expôs ao médico. E assegurou de si para si:

- Tenho certeza de que não haverá problemas.

- Então, boa-sorte. E não se esqueça: pelo menos duas horas trancado diariamente, no mínimo uns dois meses, ok?, recomendou o facultativo.


Dito e feito, Palhares abriu cuidadosa e discretamente a janela e penetrou na residência, indo direto ao quarto de dormir do amigo. Abriu a porta do guarda-roupas e trancou-se lá.

Estava há uns dez minutos, suando por todos os poros, quando ouviu passos. Pela fresta, verificou que era a esposa do amigo. 

- Mas que diabos, pensou. - Será que brigaram de novo e ela não foi com ele? Ou foi e voltou antes? Ou...

O suor agora já descia em bicas, coração acelerado, situação dramática porque o plano não era de jeito nenhum ser surpreendido dentro da casa. 

Por mais forte que fosse a afinidade, por mais sólida a amizade, era uma situação exótica que exigiria todo um ritual preparatório antes de ir direto ao ´tranquei-me no seu armário´. 

Mas a circunstância daquela mulher ter retornado antes do tempo mudou tudo. 

O que fazer? O que dizer? Ainda se fosse o próprio amigo... Mas a mulher dele? Nem tanta intimidade tinha Palhares com ela, afinal, ele crescera com o amigo, compartilhava alegrias e tristezas era com ele. 

Ela, Palhares  só veio a conhecer cerca de uns seis meses antes de se casarem, também uns seis meses atrás. 

Ele então decidiu continuar escondido, até porque o compartimento em que estava tinha toda a pinta de ser usado pelo amigo, muitas roupas masculinas nos cabides, com menor probabilidade dela abrir aquele nicho específico. 

A idéia era esperar que ela fosse dormir, já era tarde da noite.

- Quando ela estiver nos braços de Morfeu, saio pé ante pé, matutava Palhares. 

E ficou ali, procurando respirar mui suavemente, sem produzir nenhum ruído. 

Ficou neste suplício, as roupas já completamente encharcadas, espiando por uma pequenina fresta o que acontecia.

Umas duas horas se passaram quando o minúsculo espaço visual proporcionado pela fresta mostrou a Palhares que a mulher se trocava, e até a imagem de nádegas bronzeadas,  bem torneadas, seu cérebro registrou. 

Quando a luz se apagou e ouviu um ranger da cama, calculou que se aproximava a hora de sair. Estava nesta expectativa  quando sentiu um calafrio e um pavor indescritível: ouviu o barulho da porta principal da casa se abrindo, e passos que vinham em direção ao quarto. 

Quando a luz acendeu ele viu, apavorado, que era o amigo. - Que merda, o que aconteceu com esses dois filhos de uma...
Após ouvir juras de amor, pedidos de desculpas mútuas (haviam brigado. Ela retornou na mesma hora; ele pretendia ficar para dar-lhe uma lição, deixá-la grilada por supostamente não dar a mínima, mas não resistiu e pegou o primeiro avião de volta) e  presenciar uma tórrida sessão de  sexo explícito, Palhares quase enfartou quando o corpanzil do amigo lutador dirigiu-se para o compartimento em que estava.

- Você!!! O que faz aqui???!!! perguntou o amigo, estupefato, olhos esbugalhados de indignação.

Só restou a um Palhares ´destamaniquinho´, amarelo como gema de ovo, tremendo que nem vara verde, no estupor do assombro com uma vozinha sumida e vacilante, balbuciar:

- Olha..., eu po... po... posso explicar...

- EXPLICAR O QUÊ? FALE MISERÁVEL, ANTES QUE EU TE CALE PARA SEMPRE.

- Bem..., se eu di... di... disser que estou aqui... a fim de... de...  curar minha claus..., claus... trofobia, vo... vo... você acredita?


Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em setembro/1997